Medicina
Saiba mais sobre o uso de Cannabis medicinal, que pode beneficiar pacientes de doenças crônicas
ENTREVISTA : SILVIO HALPERN, MÉDICO GINECOLOGISTA E PRESCRITOR DE CANNABIS MEDICINAL
O Dr. Silvio Halpern esclarece dúvidas sobre o uso da Cannabis Medicinal
ZENTA: O que se sabe hoje sobre a planta?
SILVIO HALPERN: A Cannabis ou Cânhamo é uma planta altamente versátil, e tem sido usada pela humanidade como remédio ou material de alta resistência há pelo menos 10.000 anos.
A Cannabis Medicinal, ao contrário da Cannabis recreativa, apresenta padrões e critérios a serem considerados, como definição precisa dos componentes com métodos criteriosos, a rastreabilidade e o nível de produção e limpeza. Essa padronização começa desde o plantio, pois entre as plantas da Cannabis existem muitas variações, e para manter a estabilidade dos medicamentos, precisam ser garantidos alguns parâmetros: coleta, uniformidade genética, crescimento controlado, secagem e controle de qualidade.
Na planta existem mais de 600 ingredientes diferentes, sendo os mais conhecidos o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), mas existem também em torno de 100 compostos exclusivos dessa planta (canabinóides) e outros grupos formados por terpenóides, alcalóides e flavonóides. Sendo que os canabinóides são os ingredientes mais farmacologicamente ativos.
Z.: Para quais doenças são prescritos estes medicamentos?
S.H: A maior parte dos pacientes de doenças crônicas pode se beneficiar do uso da Cannabis Medicinal. Normalmente não se retira nenhum dos medicamentos que o paciente esteja tomando pelo menos até a melhora clínica ser constatada.
O elemento psicoativo deles é o Delta 9-THC, que, em doses medicinais, alivia a dor, o estresse, e reduz a insônia, além de outros efeitos, sem provocar alucinações, o chamado "barato".
O canabidiol apresenta eficácia em uma série de sintomas de difícil tratamento.
Z.: Pode falar sobre as diferentes características dos produtos derivados da cannabis?
S.H: Uma referência importante é poder dosar em mg para poder atingir a dosagem necessária para cada paciente.
A ação dos canabinóides se dá nos receptores endocanabinóides, comum a uma grande variedade de seres da natureza. A presença dos outros elementos não canabinóides na planta ajudam na sua ação pelo efeito "Entourage" , quer dizer amplifica os efeitos positivos e modula os efeitos negativos. Ou seja: o todo é maior que a soma das partes.
Por isso, o Full Spectrum apresenta a quantidade máxima de fitoquímicos nativos e úteis e é retida durante a extração, incluindo o THC. Os preparados Broad Spectrum visam reter na extração uma grande quantidade de fitoquímicos sem o THC. E o "Isolado" é aquele que apresenta a forma pura dos canabinóides.
A administração dos medicamentos pode ser oral, com óleos, comprimidos e "gummies," por via inalatória, com o uso de inaladores especiais, supositórios retais e vaginais.
Z.: Quais são as condições de uso?
S.H: A ANVISA limita a presença de THC em 0,2% nas formulações. Existem produtos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vendidos nas farmácias com receita especial. Esses produtos normalmente são de Cannabis isolado .
A composição do solo e a existência ou não de agrotóxicos são também fundamentais para a qualidade do produto final. Essas análises devem ser feitas e apresentadas na embalagens dos produtos em QR-code para serem avaliados.
É importante saber que não existe nenhum caso de óbito atribuível a medicamentos de Cannabis.
Z.: Quais especialidades médicas podem prescrever os produtos?
S.H: Qualquer médico pode prescrever, mas o ideal é que tenha conhecimento específico do tema para fazê-lo. É importante saber que a resposta ao tratamento é individual, quer dizer que o paciente precisa iniciar o tratamento com dose baixa, e ir aumentando aos poucos até atingir o objetivo. Para isso, o prescritor e o paciente precisam ter um contato frequente.
Existem algumas interações entre medicamentos que devem ser evitadas.
Z.: E os custos dos tratamentos?
S.H: Existem produtos produzidos por Associações, que têm liminares judiciais para plantar e produzir o medicamento, e cujo preço é mais acessível, e os produtos importados, que em geral são mais caros. A diferença pode estar na estabilidade dos componentes.
Silvio Halpern é ginecologista, obstetra, vídeo cirurgião, especialista em Cirurgia Vaginal (correção de incontinência urinária), Radiofrequência e prescritor de Cannabis Medicinal.
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