Neuropsicologia
Parkinson: Melhoria nos hábitos de vida pode contribuir para postergar início e reduzir intensidade de sintomas
11 de abril: Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson
ARTIGO DO PROF. DR. JOSÉ ROBERTO WAJMAN
O neuropsicólogo Dr. José Roberto Wajman fala com exclusividade para o Portal Zenta a respeito da doença de Parkinson - sintomas, cuidados com o paciente e familiares, tratamento.
A doença de Parkinson (DP) é uma condição neurológica crônica e progressiva que acomete algumas estruturas específicas do cérebro, onde os sintomas iniciais são geralmente caracterizados por tremor, lentificação, rigidez e instabilidade postural.
Inicialmente, estas manifestações motoras costumam aparecer de maneira sutil, mas ao longo do tempo tendem a se agravar, podendo evoluir de forma concomitante a alterações do humor e também dificuldades cognitivas. Outros sintomas não motores da DP incluem diminuição do olfato, problemas relacionados ao sono e constipação intestinal, manifestações clínicas estas que muitas vezes surgem anos antes dos sintomas motores.
Ainda não se sabe ao certo quais são exatamente as causas da DP, mas o principal mecanismo neurofisiológico explicativo seria uma redução expressiva na produção de Dopamina (componente neuroquímico que auxilia a transmissão de informações entre os neurônios e que está diretamente associado aos movimentos), cuja localização no cérebro se dá em uma área chamada de Substância Negra. Tal comprometimento neuronal acaba por prejudicar as conexões eletroquímicas, também chamadas de sinapses.
Cientistas e pesquisadores acreditam se tratar de uma doença cuja origem esteja na combinação entre fatores genéticos e ambientais. Atualmente, diversos genes relacionados à DP foram mapeados, sendo que, em pelo menos um deles, mais de 20 mutações já foram identificadas. Fatores não genéticos como traumatismo craniano, exposição a pesticidas, herbicidas, solventes e metais pesados são algumas das hipóteses ambientais possivelmente associadas ao surgimento da DP. Apesar do avançar da idade ser o seu principal fator de risco, a DP pode acometer adultos jovens por volta (ou até mesmo antes) dos 40 anos de idade. Nestes casos, os termos Parkinson precoce e/ou juvenil são utilizados.
Assim como existem fatores de risco para desenvolver a DP, também há na literatura especializada uma série de recomendações chamadas de medidas protetivas. É importante dizer que estas mudanças não são necessariamente preventivas, já que estamos falando de uma doença de base genética, mas cuja melhoria nos hábitos de vida poderia contribuir em relação à idade de início e também na intensidade dos sintomas. Tais hábitos incluem uma dieta saudável e balanceada com ingestão de alimentos naturais que possuem em sua composição nutricional ácido fólico, ômega-3 e vitamina E, além da realização de atividade física regrada e monitorada, com duração de ao menos 150 minutos por semana e de intensidade moderada à vigorosa. Uma boa qualidade do sono e o envolvimento em atividades sócio ocupacionais também podem ser fortes aliados do cérebro.
Além do tratamento farmacológico tradicional, composto por drogas dopaminérgicas (como por exemplo, a Levodopa) e não dopaminérgicas (ex: Amantadina), a opção neurocirúrgica chamada de Estimulação Cerebral Profunda (ECP) é hoje considerada a melhor alternativa terapêutica para a DP, após o surgimento da Levodopa. A ECP já é utilizada desde a década de 1980 e sua aprovação para pacientes com DP se deu no início dos anos 2000. No Brasil, além do procedimento ser realizado na rede privada, a ECP já é oferecida junto ao Sistema Único de Saúde, desde o ano de 2018. Não são todas as pessoas com DP que podem ser submetidas à ECP. Alguns critérios preliminares incluem: pessoas que apresentam efeitos colaterais graves diante dos medicamentos (ex: gastrointestinais ou sonolência), diminuição da eficácia dos medicamentos (também chamada de meia-vida curta), devido, dentre outras coisas, ao avançar da doença, ao menos quatro anos desde o diagnóstico de DP, quadros mais avançados e relativa preservação de aspectos relacionados à cognição e ao comportamento.
Para esta modalidade de cirurgia, conhecida como neurocirurgia funcional, o procedimento é realizado com o paciente acordado, onde eletrodos serão milimetricamente implantados e posicionados em regiões motoras específicas do cérebro e, através de um cabo, conectados a um gerador de energia (tipo um marca-passo) previamente inserido em região clavicular. As ondas elétricas enviadas do gerador ao cérebro podem ser contínuas, de baixo ou alto alcance, com uma determinada frequência (em Hertz), localizadas ou dispersas, e seu ajuste se dá por meio de um programa controlado por qualquer dispositivo eletrônico (como por exemplo, um celular ou um tablet) que possua o software. Além desta possibilidade, algumas novidades no tratamento da DP incluem bombas de infusão que liberam fármacos diretamente no aparelho digestivo, ou mesmo as infusões subcutâneas.
Finalmente, quanto a aspectos psicoeducacionais relacionados à orientação familiar e suporte aos pacientes, se preconiza que estas pessoas sejam devidamente acompanhadas por especialistas, que exista uma aderência à opção de tratamento adotado e também às orientações não farmacológicas, que sua estrutura familiar seja suficientemente adequada às necessidades do paciente, que seu “habitat” esteja minimamente adaptado à sua condição e que, acima de tudo, o objetivo fundamental de oferecer qualidade de vida seja constantemente perseguido e, quiçá, alcançado. Para contribuir positivamente no cuidado da pessoa com DP é preciso que o cuidador (familiar ou não) também se cuide e seja cuidado. Para isto, diversos centros de referência em DP adotam o sistema de grupos terapêuticos, onde se aprende e ensina sobre a doença e também em como lidar com as mais diversas contingências do dia a dia.
Prof. Dr. José Roberto Wajman é neuropsicólogo, PHD em Neurociências pela Unifesp, com pós-doutorado pela USP.