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Dependência: Beber socialmente - isso pode se tornar um problema?



Artigo de Eliane Derviche



O ser humano sempre fez uso das mais diversas substâncias como forma de buscar alterações nas suas funções físicas, psíquicas e comportamentais.

Sabe-se que os usuários de álcool e outras substâncias psicoativas não se tornam dependentes da noite para o dia.


O dependente já foi um usuário inicial e passou por várias fases de padrão de uso. É importante ressaltar que a maior parte dos usuários de substâncias lícitas e ilícitas não se tornam dependentes, mas é muito importante que fique atento a alguns sinais que identificam o início de um uso problemático que já pode trazer prejuízos. A relação com a substância psicoativa será influenciada diretamente por diversos fatores: sociais, biológicos e psicológicos.


O fenômeno da dependência é complexo e multifatorial - falamos em tríade: substância psicoativa com suas propriedades farmacológicas específicas; o Sujeito com suas características de personalidade e sua singularidade; e, finalmente, o contexto sociocultural no qual há esse encontro entre o Sujeito e a droga.

Entre os fatores biológicos, destacamos inicialmente os aspectos genéticos - é um dos aspectos, mas não determinante para o indivíduo se tornar dependente.


Substâncias com rápido início de ação e efeito intenso estão relacionadas a um maior potencial de dependência. Substâncias que são eliminadas rapidamente no sangue desencadeiam síndrome de abstinência mais intensa (por essa razão, por exemplo, uma substância fumada ou injetada tem maior risco de induzir dependência do que a ingerida ou aspirada).

Mas, para que o diagnóstico de dependência seja feito, deve-se ter três ou mais dos seguintes aspectos apresentados durante a maior parte do tempo, no período de um ano:

1-. Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;


2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de quantidade de consumo;


3. Estado de Abstinência fisiológico quando cessou ou foi reduzido, evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância ou o uso da mesma substância com a intenção de aliviar ou evitar esses sintomas de abstinência;


4. Evidência de tolerância, em que quantidades crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar os efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas;


5. Abandono progressivo de prazeres ou interesses em favor do uso de substâncias psicoativas; aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou consumir ou para se recuperar de seus efeitos;


6. Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências danosas.


Em resumo, não podemos nos basear apenas pela quantidade ou frequência no uso da substância. O grande problema é que não é possível saber, entre as pessoas que começam a fazer uso de substâncias psicoativas, quais serão apenas usuários experimentais, quais serão ocasionais e quais se tornarão dependentes. É importante lembrar, porém, que o uso, ainda que experimental, pode vir a produzir danos à saúde da pessoa.

Se o consumo de uma substância com relativa frequência (uso habitual) pode ser considerado seguro para um determinado sujeito, esse mesmo padrão de uso pode, para outra pessoa, configurar uso nocivo, levando a consequências danosas.


Eliane Derviche é Coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas da Vila Mariana, em São Paulo (SP).

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