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Engasguei! O que há de errado?



ENTREVISTA: BETINA ABADI SZKLO, FONOAUDIÓLOGA


ZENTA: Com o envelhecimento, podem surgir dificuldades para a pessoa engolir alimentos, bebidas ou, até mesmo, a própria saliva. Como a fonoaudiologia pode ajudar a melhorar a deglutição? É comum a tosse após engolir e engasgos em pacientes com mais idade? Por que pessoas mais velhas parecem engasgar mais do que os jovens?​


BETINA ABADI SZKLO: As estruturas que participam da deglutição passam naturalmente por mudanças durante o envelhecimento. Essas mudanças geram mais fraqueza na musculatura, além de mais lentidão e incoordenação na execução dos movimentos necessários para engolir, favorecendo a ocorrência de tosse e engasgos nessas pessoas. Existe ainda um elevado número de idosos que não possuem dentes ou usam próteses mal adaptadas, o que também aumenta o risco de surgirem dificuldades para deglutir.


Z.: Quando uma pessoa engasga, o que está ocorrendo de errado?


B.A.S.: Ao deglutirmos, o trajeto correto da via digestiva é passar o alimento, secreções, líquido ou saliva, da boca para a faringe e esôfago, que são duas estruturas com aparência de tubo localizadas na garganta. Quando esse trajeto é desviado para outra região, no caso, a laringe, o nosso organismo apresenta a tosse como resposta de proteção, e se o alimento ou a saliva chega mais abaixo, na traqueia, apresentamos o engasgo. A tosse e o engasgo são, portanto, estratégias de defesa do nosso organismo contra a entrada de algum corpo estranho na via respiratória.


Z.: Como seria a deglutição normal?​


B.A.S.: Algumas das estruturas anatômicas que participam da mastigação e da deglutição também estão envolvidas em outras funções fisiológicas, como a produção da voz (fonação) e da fala (articulação).


Para que o alimento passe da boca para o estômago e não vá para o pulmão (vias aéreas), os músculos da deglutição e da respiração entram em ação, de uma forma coordenada, rápida e precisa.


É um processo contínuo pelo qual o alimento é transportado da boca até o estômago, passando pela faringe e pelo esôfago.


Z.: Poderia nos explicar sobre o refluxo?


B.A.S.: Na fase que chamamos de esôfago-gástrica podem ocorrer problemas no trânsito do bolo pelo esôfago até o estômago. Se houver alteração dos movimentos ondulatórios que levam o bolo alimentar para o estômago, o esvaziamento do esôfago pode ser mais lento, o bolo pode ficar retido em qualquer parte do esôfago e pode voltar em direção à faringe, invertendo sua direção dentro do próprio esôfago. O maior problema nesta fase ocorre se o bolo já no estômago volta para o esôfago, por falha na válvula que comunica o estômago e o esôfago. Neste caso, junto com o bolo vai também o conteúdo ácido do estômago que pode irritar tanto a mucosa do esôfago quanto da faringe e da laringe, e ser aspirado para os pulmões.


Após nos alimentarmos, devemos ficar sentados por no mínimo 30 minutos para diminuir o risco de refluxo.


Betina Abadi Szklo é fonoaudióloga formada pela PUC/SP em 1982. Exerce atividade clínica desde 1983, com especialização em fonoaudiologia clínica, nas áreas de motricidade oral, distúrbios de fala, distúrbios de linguagem oral e escrita e distúrbios neurológicos. Professora convidada no curso de SOS Respirador Bucal na instituição NEOM-RB pesquisa, educação e atendimento em odontologia. Fonoaudióloga responsável pelo setor de videodeglutograma no laboratório CRYA (Clínica Radiológica Yoshua Avritchir) desde 2007. Coordenadora do Programa Social fonoaudiológico e psicopedagógico voltado à comunidade judaica.


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