O neuropsicólogo Dr. José Roberto Wajman fala com exclusividade para o Portal Zenta a respeito de uma das enfermidades neurológicas mais impactantes da atualidade: a doença de Alzheimer.
ZENTA: Como a doença de Alzheimer é diagnosticada?
JOSÉ ROBERTO WAJMAN: Basicamente, através das queixas apresentadas pelo paciente e/ou seus familiares; da forma como progridem os sintomas (é comum uma evolução lenta e gradual); de exames de neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética), e da aplicação de protocolos neuropsicológicos (avaliação do estado mental).
Z.: Qual é, em média, a idade da maioria das pessoas com doença de Alzheimer?
J.R.W.: A doença é mais comum a partir dos 65 anos de idade, dobrando o risco a cada cinco anos. Ou seja, se para cada 100 pessoas com 65 anos a doença acontece em uma proporção de 5%, por volta dos 80/85 anos, aproximadamente metade dos idosos poderão apresentar a doença.
Z.: Fora a genética, que outros fatores contribuem para que a doença se desenvolva?
J.R.W.: O estilo de vida pode ser considerado fator protetor ou de risco em relação à doença de Alzheimer. Por exemplo, reserva cognitiva e intelectual, atividade física regrada, uma boa higiene do sono e uma dieta saudável e equilibrada tendem a proteger o cérebro, ao passo que sobrepeso, sedentarismo, tabagismo e abuso de álcool representam maior chance de deflagrar uma doença para a qual já havia predisposição.
Z.: A falta de vitaminas e de alimentação adequada podem causar Alzheimer?
J.R.W.: Esquecimento não é sinônimo de Alzheimer! Embora pessoas com Alzheimer tenham problemas de memória, nem todo problema de memória é causado pela doença de Alzheimer. Muitas alterações cognitivas no idoso são potencialmente reversíveis. Assim como a utilização errada ou irregular de alguma medicação, quadros infecciosos, pequenos traumas cranianos, doenças metabólicas descompensadas e alterações do humor, a carência de vitaminas também pode ser corrigida melhorando cognição, comportamento e funcionalidade.
Z.: Fazer palavras cruzadas, jogos e estimular o cérebro podem prevenir a doença?
J.R.W.: Como hábito ao longo da vida, estas e outras “ginásticas para o cérebro” podem ajudar a criar nossa reserva cognitiva e “empurrar” o início da doença mais para frente. Entretanto, não há ainda uma forma conhecida de prevenir o Alzheimer.
Z.: Quais são os sintomas da doença de Alzheimer? Quais são os distúrbios de comportamento mais comuns no doente?
J.R.W.: Alteração da memória recente, como lembrar-se de já ter ou não contado alguma coisa; desorientação para os dias da semana e do mês, do próprio mês ou até mesmo o ano; dificuldade em encontrar palavras ou lembrar de nomes conhecidos; dificuldade de planejamento e organização, além de dificuldade em resolver situações simples do dia a dia são alguns dos sintomas mais comuns. Mudanças de humor e comportamento incluem irritabilidade, tristeza, ansiedade e agitação (inquietude), além de retraimento social e apatia. Delírios e alucinações podem acontecer em fases mais avançadas.
Z.: Existem fases ou estágios na doença?
J.R.W.: Sim. Costumeiramente, divide-se a doença em fase inicial (com sintomas leves), intermediária (onde há alterações moderadas) e avançada (com sintomas mais graves). Hoje, sabemos que há ainda fases pré-clínicas (etapas anteriores aos primeiros sintomas) e também mais divisões entre as fases moderada e grave.
Z.: Perda de memória em idosos é sempre devida à doença de Alzheimer? Quais as outras doenças que têm sintomas parecidos com a doença de Alzheimer?
J.R.W.: Outras formas de esquecimento progressivo incluem degenerações com causas cerebrovasculares, a doença por corpúsculos de Lewy (descrita por um neurologista alemão de origem judaica) e a degeneração frontotemporal. Outras formas de esquecimentos progressivos, que incluem alterações motoras, por exemplo, com exceção dos esquecimentos da doença de Parkinson, são menos comuns.
Z.: Como a doença de Alzheimer é tratada? O que são anticolinesterásicos? São seguros e eficazes? Como age a droga memantina? Ela é segura e eficaz?
J.R.W.: O tratamento pode ser dividido em farmacológico e não farmacológico. Falando do ponto de vista farmacológico, temos como droga de primeira escolha os anticolinesterásicos: substâncias que combatem uma enzima que destrói os neurônios e provoca o Alzheimer. Com acompanhamento médico especializado, todo tratamento é seguro, no sentido de evitar efeitos indesejados, e o mesmo acontece na doença de Alzheimer. Uma vez sendo o tratamento bem prescrito e o doente respondendo bem à medicação, estas drogas são eficazes por um determinado período, já que a doença é progressiva e não tem cura. A memantina (uma droga anti glutamatérgica) pode e costuma ser utilizada em associação com os anticolinesterásicos, mas sua prescrição se dá a partir de fases mais moderadas, quando a doença já começa a avançar.
Z.: Poderia dar orientações aos familiares e pessoas próximas de como lidar com o doente?
J.R.W.: Para cuidadores de pessoas com doença de Alzheimer, as principais orientações começam por cuidarem também de si próprios e de sua saúde (física e mental). A partir daí, orienta-se evitar riscos ao paciente (o cuidado com as medicações, com acidentes em casa como quedas ou esquecimento do gás aceso); estar preparado para repetir aquilo que foi dito quantas vezes for necessário; manter calendário e relógio à vista; organizar uma rotina semanal; estimular a participação em pequenas atividades cotidianas; manter o convívio familiar e social, além de manter atividade física e exercitar a memória. Finalmente, um adequado manejo do comportamento inclui não confrontar o doente e incentivá-lo a falar sobre o que o incomoda, expressando suas ideias e emoções.
Dr. José Roberto Wajman é neuropsicólogo, PHD em Neurociências pela Unifesp, com pós-doutorado pela USP.
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