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Fragmentos da Memória: A Era de Ouro do Rádio




Nesta série que vai até o fim de setembro, vamos homenagear os pioneiros do cinema, TV, rádio, teatro. O primeiro capítulo versa sobre a Era do Rádio. Confira:


Conforme a ABRATEL (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), o marco oficial do rádio no Brasil foi em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Os primeiros ouvintes tiveram a oportunidade de acompanhar, além do pronunciamento do presidente Epitácio Pessoa, a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes – transmitida no Teatro Municipal. Edgar Roquette Pinto, considerado o “pai da radiodifusão no Brasil”, tentou, na época, convencer o governo brasileiro a adquirir os equipamentos apresentados no evento, mas não conseguiu, a Academia Brasileira de Ciências os comprou, em seguida.


Em 1923 foi criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que mais tarde passou se chamar Rádio MEC. Em 1927, o som dos discos passa a ser conectado a uma mesa de controle e deixa de ser captado diretamente pelo microfone. A partir da década seguinte, o rádio se torna um grande veículo de massa. César Ladeira, inicialmente na Rádio Record (São Paulo), e mais tarde na Mayrink Veiga (Rio de Janeiro), foi quem profissionalizou o rádio brasileiro, abrindo as portas para os programas de auditório, radionovelas e humorísticos.


O que também ajudou a popularização do rádio foi o decreto de Getúlio Vargas que possibilitou, em 1932, a introdução de reclames. Seus pronunciamentos eram campeões de audiência, o sucesso levou o governo a criar o Departamento Oficial de Propaganda (DOP), mais tarde transformado no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que fiscalizava as emissoras e tinha o poder de censurar. O presidente criou a Voz do Brasil, concebida por Armando Campos, que foi ao ar pela primeira vez em junho de 1935, sob o título de “Programa Nacional”, em 1938, o programa passou a ter veiculação obrigatória.


A Rádio Nacional inovou o radiojornalismo em 1941, ao criar, o Repórter Esso, que serviu de modelo para outros noticiários, com o slogan “a testemunha ocular da história”, teve como destaques os locutores Heron Domingues, Celso Guimarães e Cezar Ladeira.


No mesmo ano, a primeira radionovela da emissora estreou: “Em busca da Felicidade”, e se tornou um fenômeno, o “Edifício Balança mais não cai” que tinha a participação de Paulo Gracindo, Brandão Filho, Walter D’Ávila, também se tornaram campeões de audiência. Nos anos 50, a novela "O Direito de Nascer", transmitida diariamente na Rádio Nacional, parava a cidade do Rio de Janeiro. Apesar de ter destaque garantido por muitas décadas, em fins da década de 50, com a concorrência da TV, o rádio começou a perder prestígio.


Seguem histórias de alguns desses ídolos:


Orlando Silva (1915-1978), o "cantor das multidões", foi um dos primeiros ídolos da música brasileira nos anos 1930. Considerado por grande parte da crítica como a voz mais bonita do País e o maior cantor de rádio, se consagrou com sucessos como "Carinhoso", "Lábios que beijei", "Nada Além" e "A Jardineira". Foi o primeiro cantor a ter um programa no maior veículo de comunicação, a Rádio Nacional. Francisco Alves, o cantor mais influente da época, foi seu padrinho musical e ídolo. Teve uma vida difícil, marcada por um acidente de bonde (parte de um pé foi amputado), problemas com álcool e morfina, altos e baixos na carreira e um relacionamento amoroso turbulento.


Isaurinha Garcia (1923-1993), conhecida como "A Personalíssima" por seu estilo marcante e sotaque paulistano do bairro do Brás, teve também uma vida difícil. Era agredida pelo pai, que a forçava a trabalhar exaustivamente. Destaques de seu repertório: "Mensagem ("Quando o carteiro chegou..."), "E daí", "Nunca", "Malandro Urbano".


Nelson Gonçalves (1919-1998) foi o maior vendedor de discos da década de 1950. Teve um problema fonético similar à gagueira, que o obrigava a falar muito rápido, o que lhe rendeu o apelido de "Metralha" na escola. Trabalhou como engraxate, garçom, jornaleiro e foi lutador de boxe. Fracassa em programas de calouros, mas persiste e grava o primeiro disco em 1941. Consagra-se com "Renúncia" e transforma a canção "Maria Betânia" em grande sucesso - razão que levou Caetano Veloso a pedir aos pais que dessem o nome à irmã! Na década de 1950, o barítono deixa o timbre de Orlando Silva e encontra identidade própria. A parceria com Adelino Moreira o levou a seus maiores êxitos, como "Fica comigo essa noite", "Mariposa"e "Êxtase".


Ângela Maria (1929-2018), uma das Rainhas do Rádio, adotou esse nome artístico para não ser identificada pelos parentes, que eram contra seu desejo de ser cantora de rádio. Seu nome verdadeiro era Abelim Maria da Cunha. O apelido, Sapoti, foi dado pelo presidente Getúlio Vargas, que dizia que ela tinha a voz doce e a cor do sapoti. Ela cantava desde pequena em corais de igreja. Foi operária tecelã e inspetora de lâmpadas em uma fábrica da General Electric. Entre as principais canções eternizadas em sua voz estão "Choro Especial", "Orgulho", "Tango Nostalgia", "Gente Humilde", "Um Dia de Domingo (ao lado de Agnaldo Timóteo). Fez muitas outras parcerias, como a com Cauby Peixoto, com discos e shows.


Silvia Caldas (1908-1998) foi cantor e compositor, consagrado por estilos musicais diferentes, como valsas e sambas. Destaques de seu repertório incluem "Lenço no pescoço”, “Pastorinhas” e “Chão de estrelas”.


Cartola (1908-1980) compôs a primeira obra em 1929, "Que Infeliz Sorte", a pedido do famoso cantor Mário Reis. Ela foi gravada também por Francisco Alves. O apelido (seu nome era Angenor de Oliveira) pegou porque ele costumava usar um chapéu-coco. Teve parcerias com muitos cantores e compositores, como Noel Rosa, Carmem Miranda e Silvio Caldas. Foi um dos fundadores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira (RJ). O nome veio de um de seus sambas.


Dalva de Oliveira (1917-1972), nasceu no interior de São Paulo em 1917 e tornou-se uma das maiores vozes da música popular brasileira, teve um percurso singular no rádio e fez uma dupla de grande sucesso com Herivelto Martins.


Francisco Alves (1898-1952) ficou conhecido como o Rei da Voz, o maior cantor do País. Era ídolo e padrinho musical de Orlando Silva. Gravou 1173 discos. Foi dele a primeira gravação de "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. Ao cantar na Argentina, fazia questão de começar com tangos no idioma local. Morreu em um acidente automobilístico.


Carlos Galhardo (1913-1985) era chamado de "O Cantor que dispensa adjetivos" e nasceu em Buenos Aires. Para sobreviver, ele trabalhou em algumas alfaiatarias e em uma tabacaria.


A música "Destino", de Nonô e Luís Iglesias, alavancou sua carreira. Galhardo foi convidado para fazer a primeira apresentação para o diretor da gravadora RCA. Com a música "Você não gosta de mim", ele gravou o primeiro disco.


Tal como Orlando Silva, Carlos Galhardo apareceu em filmes. Ele participou do elenco de "Banana da Terra", dirigido por J. Ruy (em 1938), "Vamos cantar", de Leo Martins (em 1940), "Entra na farra", de Luís de Barros (1941), "Carnaval em lá maior", de Ademar Gonzaga (1955) e "Metido a bacana", de J.B. Tanko (1957).


Estes são apenas alguns dos maiores destaques da Era de Ouro do Rádio no Brasil. Como toda lista tem a desvantagem de ser incompleta, convidamos você a nos ajudar a completá-la! Escreva aqui no blog ou nos comentários das redes sociais aqueles pioneiros do rádio que marcaram sua vida!


Fontes: Abratel, Acervo O Globo, G1, Rádio Batuta, Enciclopédia Itaú, EBC, Blog Oba Box, Rádio USP, TV Brasil.







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