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Fragmentos da Memória: Humor na TV brasileira



“A mesma praça/ o mesmo banco/ as mesmas flores/ o mesmo jardim”... É só ouvir o tema de abertura (canção “A Praça”, composta por Carlos Imperial e gravada por Ronnie Von), que nossa memória já vai para aquele banco da “Praça da Alegria”! Nele está Manoel da Nóbrega, com jornal na mão, onde recebe a “velha surda”, interpretada por Rony Rios. Nóbrega sai e a senhora míope e surda passa a fazer companhia a “Apolônio”, personagem de Viana Júnior, confundindo tudo o que ele diz, com rimas maliciosamente ingênuas. Hilário!


E o charutão, marca registrada da ladra “Catifunda” (Zilda Cardoso), orgulhosa em narrar seus "ïlícitos"? Entre outros grandes personagens, "Simplício” (Francisco Flaviano de Almeida), com seus gritos de “Ó, home!”; a dondoca “Cremilda” (Consuelo Leandro) e seu “marido Oscar”; o impagável Mendigo Nobre (Jorge Loredo), com postura de lorde; e “Pacífico” (Ronald Golias), que usava o bordão “Ô cride”!

Criada por Manoel de Nóbrega em 1956, passou por várias emissoras. Na Globo, entre 1977 e 1978, foi apresentada por Luís Carlos Miele. A partir de 1987 passou a ser comandada por Carlos Alberto de Nóbrega, filho do criador, com o nome de "A Praça é nossa", no SBT.


Programa que é quase sinônimo de humorístico na TV, “A Escolinha do Professor Raimundo” estreou na TV Rio em 1957. Vinha da Rádio Mayrink Veiga, onde havia começado em 1952. O sério professor Raimundo Nonato, interpretado por Chico Anysio, não se conformava com certas bobagens ditas pelos alunos, e consagrou bordões como “Vou lhe dar um zero!”, “Para de dar pitaco nas respostas de seus colegas” e “Não complica, explica”. No intervalo, “É vapt-vupt!”. Com os dedos mostrando algo bem pequeno, encerrava o programa com "E o salário, ó!”.


Em 1990, estreou como um programa independente na Rede Globo. A "Escolinha" deve ter sido um dos programas mais imitados no decorrer das décadas seguintes, além de uma grande vitrine para novos talentos e divulgação daqueles um pouco esquecido. Passou por vários formatos, dias de exibição e elencos. Uma curiosidade é que alguns artistas interpretaram diferentes personagens ao longo dos anos.



Entre as estrelas e seus bordões, podemos citar Grande Otelo, com “Aqui, qui queres?”, pronunciando bem a letra "u"; Lúcio Mauro, o Aldemar Vigário, criando histórias sobre um suposto passado glorioso do professor, com "Quem, quem, quem? Raimundo Nonato!"; Cláudia Gimenez, interpretando a dona Cacilda, com seu “Beijinho, Beijinho, e Pau Pau”; Orlando Drummond, o Seu Peru, e o “Te dou o maiorrr apoio”; David Pinheiro interpretando Armando Volta e o “Eis me aqui, digníssimo”; o célebre Rony Cócegas com seu Galeão Cumbica, falando “No aaaaaar! Atenção passageiros com destino a…, se piqueee!"; Castrinho e o seu "Geraaaaaaaldo!"; Pedro Bismarck, o Nerso da Capitinga, com “Eu não sou bobo não, fio!” e "É ieu mesmo"; Zezé de Macedo, a Dona Bela, revirando os olhos com a frase “Só pensa naquilo”; Rogério Cardoso, o Rolando Lero, aluno que tenta enrolar o professor, com “Captei! Captei vossa mensagem, amado mestre!”; Antônio Carlos, o Joselino Barbacena, com “Quando eu era criança pequena lá em Barbacena…”; Walter D'Ávila, o Baltazar da Rocha, com "Sabo-lho"; Ivon Curi, o Gaudêncio, com "Eu sou macho-cho!"; Berta Loran, a "Manuela D'Além-Mar, de Trás-os-Montes, sim sinhoire"; Eliezer Mota, o Batista, que dizia "Saúde, paz, amor, harmonia, alegria e prosperidade pro senhor e prá toda a sua família!", entre muitos outros. Na escolinha, o grande humorista Costinha viveu seu último papel, como "Seu Mazarito" (homenagem a Mazzaropi e Oscarito).


“Papai Sabe Nada”, uma sátira da série americana “Papai Sabe Tudo”, estreia na TV Record, em 1962, com apresentação de Renato Corte Real e Jô Soares. Teve grande sucesso, assim como o “Corte Rayol Show” (1965), em que Corte Real encenava com o cantor Agnaldo Rayol uma “versão brasileira” de Jerry Lewis e Dean Martin.


Em 1963, destaque para a estreia do Moacyr Franco Show, que passou por diversas emissoras e ficou no ar por incríveis 28 anos! Entre os diversos artistas que se apresentaram no programa, estiveram Eliana Pittman, Nivea Maria, José Lewgoy, Flávio Migliaccio e Renata Fronzi.


No ano seguinte, Walter Stuart, considerado um dos maiores humoristas do País nas décadas de 1960 e 1970, estreou a TV Stuart – Canal Zero, na TV Excelsior. Seus convidados encenavam esquetes humorísticas.

Fez história a Família Trapo, exibida de 1967 a 1971 na TV Record. Ronald Golias interpretava o malandro "Carlo Bronco Dinossauro", que incomodava todo mundo: seu cunhado, patriarca da família, sua irmã, sobrinhos e o mordomo, vivido por Jô Soares. Aliás, Jô e outro gigante do humor, Carlos Alberto de Nóbrega, eram os roteiristas! No elenco, Renata Fronzi, Ricardo Corte Real, Otelo Zeloni e Cidinha Campos.


Sônia Mamede deu voz a Ofélia em "Balança mas não cai", famosa pelo bordão “Eu só abro a boca quando tenho certeza!”. Não existia nenhuma rodinha de conversa na época em que não aparecia essa brincadeira… Outro quadro hilário da atração era a conversa entre o primo pobre (Brandão Filho) e o primo rico (Paulo Gracindo). Sempre que o primo pobre visitava o rico para pedir ajuda financeira tinha que ouvir reclamações. Grandes atores, grandes personagens… O programa estreou na Rede Globo em 1968, dirigido por Lúcio Mauro e apresentado por Augusto César Vannucci, depois de ter sido um grande sucesso da Rádio Nacional na década de 1950, e se baseava na vida de moradores de um edifício tipo cortiço. Contava com Chico Anysio, Tony Tornado, Paulo Gracindo e Brandão Filho, no elenco, entre outros astros e estrelas.


Já em 1970 começava na Rede Globo "Faça Humor, Não Faça Guerra”. A atração apresentava quadros curtos e piadas rápidas, a esquematização era responsabilidade de Haroldo Barbosa e Max Nunes, e os textos iniciais foram escritos por Jô Soares e Renato Corte Real.


Um grande parceiro de Jô Soares que merece menção foi Paulo Silvino, um humorista de destaque no País que representou muitos personagens. Agildo Ribeiro também trabalhou com Jô Soares em diversos programas. Ele começou sua carreira no teatro de revista e fez sucesso também no rádio. Na TV Globo, participou de várias atrações, shows e programas humorísticos. Em 1973 esteve em Satiricon, na Globo, um programa a respeito do comportamento humano. Nesta atração, além de Jô, atuou com Renato Corte Real e um grande time de humoristas.


A Grande Família foi outro sucesso dentre os pioneiros e acabou tendo vários remakes posteriormente. Estreou em 1972 e apresentava o cotidiano de uma família que convivia em um espaço bastante reduzido, onde se desenrolava a engraçada história.

Chico City foi levado ao ar no ano seguinte, 1973. O programa reunia muitos personagens idealizados por Chico Anysio em uma fictícia cidade do interior do Brasil. O humorista já havia criado centenas deles para o rádio e a televisão desde os anos 1950.


"Ô psit", "ô da poltrona", "nem morta" e "audácia da pilombeta" são apenas algumas das expressões hilárias usadas por Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumbo! Ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias, o quarteto, nessa formação, começou a se apresentar como Os Trapalhões em 1974, na TV Tupi. Antes disso, parte tinha participado de outros programas. Renato Aragão, o Didi, havia passado pela TV Excelsior com "Os Adoráveis Trapalhões", e pela TV Record, já com Dedé e Mussum, com "Os Insociáveis". Em 1977, o programa "Os Trapalhões" foi levado para a Globo, onde ficou por 18 anos. Foram 47 filmes e gerações de fãs!


Inspirado na série cinematográfica "Planeta dos Macacos", em 1976 estreou na Rede Globo o "Planeta dos Homens", um programa humorístico que contava com charges de cunho político. Novamente Jô Soares, o criador, quis ter ao seu lado Agildo Ribeiro e Paulo Silvino, além de Max Nunes nos textos, entre outros, como Luis Fernando Veríssimo.


No finalzinho da década, em 1979, a Rede Globo recebe um extraterrestre, em “Super Bronco”. Sua missão era explorar o Planeta Terra, considerado muito atrasado. Foi estrelado pelo grande Ronald Golias. Infelizmente o programa só durou 29 episódios, apesar de contar com boa audiência.


Dercy Gonçalves (1907-2008) merece destaque entre os humoristas por sua irreverência, bom humor e deboche, sempre dizendo coisas que muitos gostariam, mas não teriam coragem de expressar. Deixou saudades… Em 1957 fez sua primeira aparição na TV Tupi (muito antes era cantora), mas seu sucesso realmente veio em 1961, na TV Excelsior, em um programa de Sérgio Porto, com o quadro "A Perereca da Vizinha". Realmente, Dercy foi uma figura marcante e inesquecível!


E o que falar de Juca Chaves e Ary Toledo, que apresentaram um humor "solo" em grandes shows, com músicas e inúmeras anedotas, por vezes contestadoras? Aos 22 anos, Ary Toledo (1937-) começou como ator no Teatro Arena, mas ingressou na carreira humorística apenas cinco anos depois. Seu acervo conta com mais de 65 mil piadas de sucesso. Já Juca Chaves (1938-) iniciou a carreira profissional em 1955, na TV Tupi. Fez, em suas canções, críticas bem-humoradas e, assim como Ary Toledo, foi vítima de censura, principalmente em sua composição satírica "O Brasil já vai à guerra", em que falava da aquisição de um porta-aviões pelo governo brasileiro.


Todos são grandes talentos do humor pioneiro brasileiro e merecem nossa reverência!


E você, quem gostaria de incluir nessa homenagem?






Imagens: “Praça da Alegria”, “Escolinha do Professor Raimundo” e “Os Trapalhões” (no centro, o cantor Roberto Carlos) - Memória/Acervo Globo.


Fontes: Memória/Acervo Globo, teledramaturgia.com, Veja SP, Enciclopédia Itaú Cultural, Estadão, Dicionário MPB, Funarte, Notícias da TV - UOL

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