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Os aprendizados da pandemia e experiências práticas para minimizar seus efeitos psicológicos em 2021



Dra. Elisa Chalem, psicóloga e Doutora em Ciências pela Unifesp



Sou psicóloga de formação, com especialização na área clínica e hospitalar. Fui convidada para escrever sobre este tema, acredito que pela minha formação profissional. Aceitei o convite porque este é um tema interessante e desafiador. Mas preciso fazer uma declaração de “conflito de interesses”: este ano fiz 65 anos e, portanto, pertenço a um dos grupos de risco da COVID-19. Assim, pensar e escrever sobre os reflexos da pandemia na saúde mental e estratégias de como minimizar os seus efeitos fez com que eu refletisse sobre a minha trajetória pessoal durante a pandemia até poder retomar as atividades profissionais.


Vou compartilhar, então, alguns trechos dessa trajetória pessoal, para depois apresentar alguns exemplos e experiências que foram aparecendo durante os atendimentos e que se mostraram muito úteis para minimizar os efeitos psicológicos da pandemia.


Este ano, com o início da pandemia e a declaração de quarentena na cidade de São Paulo, eu tive que interromper por um período os atendimentos psicológicos presenciais. Neste primeiro momento, eu estava concentrada em como me adaptar pessoalmente a esta nova situação. E aproveitei o meu tempo livre para, entre outras atividades, fazer uma atualização online em saúde mental. Com uma frequência cada vez maior apareciam alertas sobre os efeitos emocionais da pandemia.

É lógico que cada um reage de uma maneira frente a uma situação estressante. Pessoas que nunca precisaram de um acompanhamento psicológico começaram apresentar comportamentos ansiosos e/ou depressivos. E, naquelas pessoas que já tinham indicação de algum acompanhamento psicoterápico, a pandemia acabou agravando muitos dos seus sintomas.


Psiquiatra pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Paula Benevenuto Hartmann, em um artigo publicado no portal PEBMED1, apresenta o conceito de “Coronofobia”, termo usado para nomear o medo, a preocupação e a ansiedade de contrair o Covid-19.

A autora cita que, entre os medos mais comuns, estão o medo da morte ou de ficar gravemente doente, de contaminar os outros ou das repercussões econômicas envolvidas. E aponta que algumas dessas reações que podem, a princípio, serem comportamentos normais e esperados diante das circunstâncias de uma pandemia, dependendo da intensidade podem ser prejudiciais e acabarem se cronificando ao invés de se abrandarem com o passar do tempo. Ela destaca, ainda, que não podemos esquecer que o vírus está relacionado a problemas de saúde reais, e que é preciso ter cuidados e medidas de segurança. Mas, o que se precisa entender é como as alterações decorrentes desta situação podem vir a comprometer o funcionamento da vida diária.


Então eu comecei a perceber que, de alguma forma, precisava retomar a minha atividade profissional. Mas como, se eu ainda estava em isolamento social? A alternativa seria o atendimento online. Solicitei, então, uma autorização junto ao Conselho Federal de Psicologia e comecei a entrar em contato com os pacientes, propondo esta nova modalidade de atendimento. Para minha surpresa, a aceitação foi total. Todos referiam que sentiam, para além da falta da psicoterapia, a falta de um espaço para dividir os medos e ansiedades decorrentes da pandemia.


Esses atendimentos acabaram, ao longo desses meses, se tornando um espaço de troca de vivências e de estratégias muito interessantes e uma oportunidade pessoal de constantes reflexões sobre este momento tão específico para todos. Vou, agora, compartilhar algumas dessas estratégias como dicas para minimizar os efeitos psicológicos da pandemia:


Quando em isolamento social total:

  • Tentar manter o máximo possível a rotina diária. Levantar na hora de sempre, se vestir, tomar café da manhã, colocar brincos, passar batom, como se fosse sair de casa;

  • No caso de poder trabalhar de casa, manter as suas atividades profissionais utilizando as tecnologias disponíveis, tentando delimitar um espaço e tempo específico para estas atividades. Nem que seja um canto da mesa de jantar....;

  • Encontrar alternativas para atividades que não podem mais ser realizadas em função do isolamento. Por exemplo, frequentar a academia, viajar. Muitos clubes, academias e escolas começaram a oferecer atividades online e vídeos no Youtube, Facebook, Instagram e pelo ZOOM. Vários guias turísticos começaram a oferecer tours virtuais;

  • Aproveitar para fazer as coisas que queria fazer há muito tempo: assistir séries e filmes na TV, ler livros, reorganizar os armários e etc.

  • Fazer coisas aleatórias que sejam divertidas e prendam a atenção. Jogar algum game, pintar, cantar, organizar as fotos digitais aproveitando para relembrar momentos importantes…;

  • Saúde Física: continuar com os acompanhamentos médicos necessários;

  • Procurar, sempre que possível, saber da possibilidade de atendimento online. Se não for possível, priorizar estas saídas;

  • Saúde mental: tentar regular suas emoções, frustrações e incertezas. Quando estiver estressado, fazer uma pausa e se concentrar na respiração, inspirando e expirando conscientemente. Antes de dormir, concentrar-se nas experiências positivas que teve durante o dia e anotá-las. Por exemplo, participou de alguma atividade online gratificante, fez alguma chamada por vídeo com os familiares, aprendeu algo interessante e etc.;

  • Notícias sobre a pandemia: Ficar atento porque, infelizmente, existem muitos rumores e notícias falsas circulando. Procurar informações em sites confiáveis, por exemplo, do Ministério da Saúde ou da Organização Mundial da Saúde.


Então, quando já estávamos nos adaptando relativamente bem a estas condições do isolamento, vieram as flexibilizações da quarentena, a reabertura de alguns espaços e o retorno ao trabalho presencial. Como atender estas novas demandas e continuar se mantendo de forma segura e protegida?

Algumas reflexões que surgiram durante os atendimentos: priorizar atividades essenciais, não se esquecer das medidas de segurança tão divulgadas, como o uso de máscaras, álcool gel, sempre que for possível escolher espaços abertos para realizar as atividades, mantendo certo distanciamento de outras pessoas e etc.


Considero que, do ponto de vista psicológico, a questão central desta pandemia, é a incerteza de quando e se poderemos voltar à chamada vida “normal”. No começo, pensamos em 15 dias, depois alguns meses, e já estamos nos aproximando do fim do ano e ainda não temos uma resposta.


Segundo a psicóloga Maria Augusta Rhein2, temos que pensar em um “novo normal”, ou seja, uma proposta de um novo padrão que possa garantir a sobrevivência dos seres humanos.


Uma das técnicas recomendadas por psicólogos é a prática do Mindfulness, que seria estar no presente, com foco na ação presente, porém lembrando os reflexos futuros desta ação continuada.


Pensando neste cenário, o psicólogo Augusto Jimenez2 cita algumas razões para se começar hoje mesmo a anotar os seus planos futuros pós-pandemia. A ansiedade diminui: ao anotar os projetos e traçar ações para alcançá-los, mesmo em casa, a pessoa consegue ter uma expectativa na mente do término do confinamento.

A endorfina é produzida: anotar e começar a cumprir pequenos passos para conquistar os seus planos produz uma sensação de satisfação no cérebro e picos de endorfina começam a ocorrer.


Melhora a sua capacidade neural e diminui a sensação de solidão: os seres humanos têm a necessidade de contato com os outros indivíduos. A capacidade neural evolui quando temos contato com o outro, mesmo que seja por vídeo. Por isso, ao anotar as suas metas e percorrê-las, você terá que ter contato com outros indivíduos por vídeo. Isso reflete a sensação de pertencimento e a satisfação individual de estar perseguindo os próprios objetivos.


Considerando esses benefícios citados eu termino fazendo uma provocação: com a aproximação do fim do ano e mantendo a tradição de fazermos planos para o próximo ano, vamos já começar a anotar nossos desejos, planos e metas para o “novo normal”? Por exemplo: passar mais tempo com a famÍlia, encontrar os amigos, viajar....





1 https://pebmed.com.br/coronofobia-o-impacto-da-pandemia-de-covid-19-na-saude-mental/amp/

2 https://www.bonde.com.br/comportamento/noticias/confira-5-razoes-para-escrever-seus-planos-pos-pandemia-518046.html


Elisa Chalem é psicóloga Clínica e Hospitalar, graduada pela USP em 1978 e Doutora em Ciências pela UNIFESP em 2018


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