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PSICOLOGIA: Quando contratar um cuidador?




Quando contratar um cuidador? Saiba como fazer, acompanhar e quando isso pode antecipar a dependência


ENTREVISTA: PATRÍCIA SERENO, PSICÓLOGA


ZENTA: Qual é a hora de procurar um cuidador para um familiar? E quando não contratar? Quais os problemas que podem surgir ao contratar um cuidador precocemente?


PATRICIA SERENO: Cada família deve perceber quando é a hora da contratação do cuidador, quando o idoso começa a ficar dependente, mostra sinais de que não está conseguindo fazer as suas tarefas da vida diária, como, por exemplo, cuidar da sua higiene, ter dificuldade de locomoção, se alimentar, entre outras. Essas são as atividades básicas a que devemos prestar atenção.

Muitas vezes o familiar prefere colocar um cuidador para que ele possa sair e ficar tranquilo. Seu pai tem companhia, se precisar de alguma ajuda tem para quem pedir, se precisar de alguma coisa... mas, o que acontece é que o cuidador, muitas vezes, vai exceder essas funções, auxiliando o idoso, mesmo que ele não peça. Assim, vai passar a amarrar os seus calçados, enxugar as costas, dar a mão para se levantar, quando na realidade isso ainda não é necessário. Com isso, apesar da boa intenção, o idoso acaba ficando dependente mais cedo.

A minha sugestão é que a gente saiba diferenciar um acompanhante de um cuidador, quais são suas funções e quais são os objetivos do idoso e do familiar quando essa decisão é tomada. É importante, sempre que contratar alguém, explicar exatamente quais são as necessidades daquele idoso.


Z.: Quais requisitos devem ser verificados na formação do profissional?


P.S.: No Brasil, a profissão de cuidador não é regulamentada, mas existem diversos cursos de cuidadores. É preciso checar a qualidade do curso.

Mas, na minha opinião, o que mais interessa é a experiência do cuidador. Quais são as patologias de que ele já cuidou? Quais procedimentos ele está acostumado a fazer?

Importante ressaltar que existe também o auxiliar de enfermagem, e ainda o técnico de enfermagem, que, muitas vezes, acabam fazendo a função de cuidador. Isso é permitido, mas existem alguns procedimentos que são exclusivos a esses profissionais e não aos cuidadores. Por exemplo, aplicação de remédio na veia, aspiração de traqueostomia, etc.

De novo, vale ressaltar que a experiência dos técnicos e auxiliares de enfermagem é mais importante do que o título.

Outra coisa muito importante é sempre checar as referências dos outros pacientes de quem ele já cuidou e também toda a documentação.


Z.: Na sua opinião, o que é relevante para se construir uma relação de confiança com o paciente? E com o familiar que contratou? Como ele/a família pode acompanhar esse atendimento? Quais os sinais a que ele deve ficar atento de que o relacionamento não vai bem?


P.S.: Como em qualquer relação, ela é construída com o tempo. O paciente vai conhecendo o seu cuidador e ficando mais tranquilo de estar na sua presença. Por isso, é fundamental que o familiar possa acompanhar esse período de adaptação cada vez que chega um novo cuidador para o idoso. Essa relação de confiança e empatia é muito importante para que o idoso fique seguro e confortável com a pessoa que está com ele a maior parte do tempo.

O atendimento pode ser acompanhado de várias maneiras, desde a mais simples, por meio de um caderno com os principais momentos do dia, mas pode ser um acompanhamento mais próximo e acolhedor. Pode ser por meio de telefonemas diários, com vídeo inclusive, onde o idoso possa também interagir com o seu familiar; pode ser por mensagens de texto. Muitas vezes é até importante fazer um grupo com diversos membros da família, pois ocorre, geralmente, que cada um do grupo assume uma função. Assim, sabendo de todas as informações, eles podem seguir a melhor solução ou estratégia.

Se o idoso aparece com hematomas, ou não se sente seguro com o cuidador, demonstrando comportamentos atípicos, é sinal de alerta que algo pode não estar indo bem. Muitas vezes o idoso inclusive deixa de se alimentar ou demonstra comportamentos regredidos.


Z.: Que tipos de atendimentos os cuidadores oferecem hoje em dia e onde atuam?


P.S.: Os cuidadores podem atuar em todos os lugares, domicílio, hospital, Instituições de Longa Permanência, entre outros. Muitas vezes são contratados até para viagens. Eles são responsáveis por tudo o que for relativo ao paciente. Por exemplo, higiene, medicação, locomoção, passeios, acompanhar em visitas médicas ou tratamentos.


Z.: É importante contratar cuidadores especializados em cada enfermidade, como Alzheimer, por exemplo?


P.S.: O curso de cuidadores deve dar uma instrução de como agir em todas as patologias, principalmente as mais comuns na população idosa como o Alzheimer, por exemplo. É claro que muitas vezes o cuidador acaba tendo preferência por algum tipo de doença, seja ela ortopédica, por exemplo, fratura de fêmur, outros gostam mais de idoso demenciado, enfim... mas, na prática o cuidador é treinado para tudo.

Importante lembrar que cada idoso é único e apresenta os seus costumes e hábitos, pois tem uma história de vida. Assim, o cuidador deve sempre ter respeito e se esforçar para se habituar a eles.


Z.: Qual é a carga horária em média, do cuidador e a faixa da remuneração? Qual os benefícios de contratar cuidadores por meio de uma empresa?


P.S.: Como colocado anteriormente, não existe uma legislação própria do cuidador pois não há lei que regulamenta a profissão. Na prática, o cuidador pode trabalhar na escala 12:36, ou seja, durante 12 horas em dias alternados, ou 44 horas semanais. Hoje se usa a Lei das Empregadas Domésticas para regulamentar, mas, na prática, muitas vezes isso não acontece, pelas necessidades da família e do paciente.

É por isso que, geralmente, vale a pena contratar uma empresa especializada. Toda parte burocrática fica por conta da empresa. Ela também é responsável por checar toda a documentação e referência dos cuidadores. A empresa saberá fazer a melhor escala entre os seus funcionários para que a pessoa seja melhor atendida sem que o familiar tenha qualquer tipo de preocupação. Inclusive, em caso de falta dos cuidadores, a empresa é responsável por enviar outra pessoa com habilidade para cuidar daquele paciente. Portanto, o paciente nunca estará desatendido.

É importante salientar que existem várias empresas no mercado Por isso é necessário checar sempre indicações e referências. Na minha opinião, é importante o cliente ter um telefone do responsável pela empresa e saber que ele será atendido sempre. O trabalho humanizado deve ser o diferencial da empresa, pois sabemos que o paciente está em vulnerabilidade, e a família também.


Patricia Sereno tem formação em Direito e Psicologia, especialização em Psicogerontologia e Psicologia Hospitalar. Hoje é sócia proprietária da ASL Cuidadores, empresa de cuidadores de idosos, vice-presidente da Unibes (União Brasileiro Israelita do Bem Estar Social), e diretora da FISESP na área do envelhecimento.


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