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Virando a mesa no Zenta - Da zona de conforto para o crescimento pessoal em um novo país




ZENTA: Qual foi a sua grande "virada de mesa"? O que mudou?

HENRY LEDERFEIND: Nos últimos sete anos, eu vinha sentindo uma enorme insatisfação profissional e muita preocupação pessoal com o futuro da minha família. Os negócios não iam mal, mas eu estava muito infeliz e não me dedicava mais tanto. A rotina do trabalho estava me matando aos poucos. Depois de muitos anos, resolvi tirar férias com a minha esposa e fomos a Miami por uma semana para passear, sem as crianças. Essa viagem foi transformadora, e eu perguntei à minha esposa se gostaria de se mudar para lá. Ela prontamente disse que sim. Posso dizer que tive de sair de meu meio-ambiente para enxergar de longe onde eu estava no dia-a-dia.


Z.: Em que idade e fase da sua vida isso ocorreu?

H.L.: Eu tinha 48 anos. Já estava estabelecido financeiramente e profissionalmente, tinha uma pequena empresa de confecção rodando no automático (com todas as dificuldades que o mercado brasileiro possui, é lógico). A gente não ganhava para juntar, mas ganhava para pagar as contas. Só que eu não via isso com bons olhos, pois tinha ambição de juntar, de realizar mais. Ainda tenho!


Z.: Como foi o processo para essa mudança? Como se preparou?

H.L.: Foram dois anos de planejamento. Muito planejamento mesmo. Eu não sairia do Brasil "na louca", sem estruturar a vida minimamente na Flórida. Tinha que ver a legalidade (vistos de permanência), estrutura e custos de vida (moradia, saúde, educação, impostos, transporte, seguros, perspectivas profissionais e de sustento). Tinha também que discutir com minha sócia - minha mãe - se ela queria continuar a empresa ou se juntar a nós. Ela decidiu encerrar a empresa. Pesquisei muito, fiz contato com muitas pessoas que passaram por este processo de imigração e adaptação. Um ano antes da mudança, levei a família inteira para lá por 17 dias para fazerem um "test-drive", para sentirem se era isso mesmo o que todos queriam. Na verdade, eu e minha esposa decidimos por todos, e levamos a família nesses 17 dias para irem se acostumando com a ideia e visualizar como seria viver onde iríamos morar. Tínhamos ainda que planejar muitas coisas, desmantelar duas casas (a nossa e a de minha mãe) e desmontar a empresa (vender os estoques, encerrar os contratos). No primeiro semestre de 2018 fizemos a última coleção e, no segundo semestre, liquidamos. Não foi nada traumático, nada de sopetão, tudo muito planejado e executado. Foi difícil falar para os funcionários e clientes, no entanto. Mas a decisão estava tomada.


Z.: Quais as principais dificuldades que enfrentou?

H.L.: A principal foi moradia. Foi muito difícil conseguirmos uma casa para alugar em que coubesse uma família do tamanho da nossa. O mercado americano de imóveis é muito dinâmico (mesmo hoje com a crise, continua sendo), e a concorrência e procura eram imensas. Eu passei dez dias na região desejada, dois meses antes de nos mudarmos, procurando onde morar, e saí de lá sem conseguir. Perdi algumas chances e, culturalmente, a corretora de imóveis - que era americana - não sabia se expressar de um jeito que eu, brasileiro, conseguisse entender. Ela pedia uma documentação exagerada e invasiva, super estranha, que no Brasil não se pede. Até a raça do cachorro e peso ela queria saber! Pois é, também trouxemos nosso cãozinho. Outra dificuldade, depois dessa parte da residência resolvida quase que em cima da hora, foi a adaptação profissional. O primeiro ano foi como uma lavoura: eu estava remexendo a terra para poder plantar. Pesquisei muitas possibilidades para me estabelecer profissionalmente. Eu me sentia como um navio à deriva, pois sem a confecção que eu já não curtia, eu podia tudo e ao mesmo tempo não sabia nada. Foi um ano bem sofrido para mim, na base de calmantes, fora a adaptação escolar das crianças, que também foi complicada. Hoje estão todos bem adaptados e na rotina. Minha esposa saiu do Brasil com trabalho garantido, pois ela já trabalhava remotamente em São Paulo, então não houve diferença para ela. Para mim, estou agora plantando as sementes desse processo, uma vez que decidi o que vou seguir, que é a corretagem de imóveis.


Z.: Quais os principais apoios/companhias/inspirações para conseguir?

H.L.: O principal apoio, sem dúvida, foi de minha esposa, que sem piscar ou olhar para trás embarcou nesse projeto de cabeça. Ficava o tempo todo me provocando, duvidando que a gente conseguiria, e isso me estimulava mais ainda (risos). A principal inspiração sem dúvida são nossas filhas, pois todo esse projeto de virada não teria sentido se a gente não quisesse e sonhasse com um futuro fora do Brasil para elas. O apoio de minha mãe também foi fundamental, pois ela topou vir junto. Eu teria ficado extremamente preocupado se ela não viesse, uma vez que sou filho único e eu queria que ela tivesse uma aposentadoria tranquila. Ela foi muito sábia em querer encerrar a empresa, hoje eu admito, pois no início eu queria ter continuado a tocar a confecção à distância para não perder por completo a fonte de renda. Mas arriscamos e deu certo. E uma inspiração à parte, de muitos anos, foi de uma família daqui da Flórida que conheci há 20 anos, e que imigrou há 30 anos nas mesmas condições que nós. Os filhos hoje são pais de família e o que vi na história deles enxerguei para minhas crianças também.


Z.: E os maiores benefícios que conquistou?

H.L.: O primeiro benefício é a retomada da esperança de um futuro melhor para todos nós. Com essa virada, eu sinto que fizemos o certo para nossa família, e a minha insatisfação pessoal e infelicidade deram lugar a uma sensação de liberdade e ares renovados. Outro benefício é o crescimento pessoal de cada um da família, pois imigrar é, por um lado, muito doloroso, pois a gente está abandonando uma zona emocional e social de conforto e segurança para uma vida "incerta", e isso se transforma a longo prazo em crescimento e amadurecimento. E tudo com muito cuidado, fazendo as contas na ponta do lápis, sem deslumbres e sem luxos.


Z.: O que você falaria para alguém que pensa em "virar a mesa"?

H.L.: Ninguém vai morrer de fome e, se você sonha em mudar seu futuro, tem que pesquisar, planejar, calcular o custo material e emocional, e colocar em prática seu plano, fazendo as correções necessárias ao longo do caminho, pois nada na vida é preto no branco. Mas garanto que a satisfação por ter realizado e aberto uma porta nova é uma das melhores sensações que a gente pode ter. Nenhuma mudança é fácil, nem tudo são flores, mas estar lutando por um futuro diferente é muito bom! Estamos felizes!






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