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Virando a mesa no Zenta - Outro país, outro trabalho, novo estilo de vida



Adriana Abadi Rosemblum, o marido William e os filhos Isabella e Daniel deixaram o Brasil há três anos e mudaram para Israel. A virada foi grande, de país, de trabalho, de vida. Confira esse depoimento emocionante:

ZENTA: Qual foi a sua grande "virada de mesa"? O que mudou?

ADRIANA ABADI ROSEMBLUM: A minha grande virada foi mudar totalmente o meu estilo de vida. Nasci em São Paulo, morei lá a minha vida inteira. Eu me formei em Publicidade e Propaganda, mas trabalhei muito pouco tempo com isso. E aos 22 anos de idade comecei a trabalhar com o William, meu marido. Tivemos uma empresa durante 28 anos e ela deu super certo, cresceu para caramba, era uma distribuidora de alimentos para restaurantes. Mas o negócio foi muito trabalhoso. Tudo que é de alimentos é muito trabalhoso, principalmente no nosso caso, de perecíveis. O nosso estoque era praticamente semanal, não sei quantos milhares de itens entrando e saindo toda semana. Então, empresa grande, giro alto, muitos funcionários, muita dor de cabeça, muito sofrimento com a política econômica do Brasil, muito sofrimento com a falta de incentivo ao empresariado. Financeiramente, foi tudo maravilhoso por muitos anos, mas a gente começou a ver que a luz no fim do túnel sumiu. E os juros subindo, muita inadimplência por parte dos meus clientes, capital de giro espremido por conta da inadimplência. E, no Brasil, não dá para contar com dinheiro de banco, pois os juros são exorbitantes. Aí a gente começou a pensar em mudar. Mudar o que? Fazer o que? Então surgiu uma oportunidade, em que nós vendemos a nossa empresa dividida em duas partes, porque a gente tinha um depósito em Taboão da Serra e uma loja de autosserviços em Itapecerica (cidades do interior de São Paulo). A gente vendeu os dois separados e pensamos em seguir no caminho de alimentos, só que com algo menor. Uma coisa que eu aprendi nessa parte é que o pequeno não sobrevive no Brasil. A gente tinha uma empresa antes que crescia, crescia, crescia, a gente tinha preço para bancar qualquer concorrente. Depois pensamos em fazer uma coisa pequena para ter um pouco mais de paz e tranquilidade, mas não dá certo de jeito nenhum. Sendo um comerciante pequeno, você não tem preço de venda, você nunca vai concorrer com os grandes. E isso ocorre em todos os ramos, no mundo inteiro capitalista é assim. Tem que ser pauleira. Para você ser empresário, tem que ser assim estressante, tenso, perder noites de sono.

Z.: Em que idade e fase da sua vida a mudança ocorreu?

A.A.R.: Esse estilo de vida tinha passado a não valer a pena desde que a gente teve filhos. Naquela época, a minha filha já tinha 15 anos e o meu filho tinha sete. Eu estava com 48 e o meu marido tinha 49 anos. Isso tudo foi há três anos.

Z.: Como foi o processo para essa mudança?

A.A.R.: O William há muito queria sair do Brasil, mas a gente não sabia para onde ir. Três anos é o tempo em que efetivamente nós chegamos à Israel, mas todo o processo começou um pouco antes. Eu fiquei enrolando por muito tempo, falando que ia melhorar, melhorar, melhorar, mas não melhorou nada. Tenho certeza que a gente fez o certo, porque de fato não melhora. Estou muito satisfeita com a decisão que a gente tomou, muito satisfeita com o rumo que a nossa vida tomou. Mas muito triste pelo que continua no Brasil, não só pelo fato de eu ter família e amigos aí, mas pena de ver o lugar onde eu cresci desmanchar. Decidimos por Israel porque é um país onde seríamos bem-vindos. Nos Estados Unidos não, na Europa não, todo lugar está dizendo não para imigrantes. Você tem que levar uma fortuna e engessar um capital, ou montar uma empresa para garantir "x" empregos para nativos. Em Israel não. Israel não só quer os imigrantes, judeus ou descendentes de judeus, como ajuda, e isso eu não tinha em nenhum lugar do mundo. Meu marido não conhecia Israel e eu falei para ele que, se estávamos pensando em nos mudar, ele teria que conhecer antes. Então eu e ele viemos, passamos três semanas aqui em Israel, pesquisando, fuçando, vendo tudo quanto é cidade. Quando ficamos em dúvida entre duas ou três cidades, começamos a ver bairros, escolas. Ele adorou tudo que viu, ficou surpreso, não achou que iria encontrar um lugar tão moderno. Fizemos isso sem as crianças para tentar resolver sem emoção. A gente precisava usar só a razão naquele momento. O processo deu início exatamente no momento em que a gente entrou em contato com os órgãos de Israel e descobrimos como fazer para dar entrada em toda a papelada. Passamos por entrevistas, vimos que o nosso perfil era bem aceito e a gente decidiu pela mudança em outubro de 2016. Em dezembro já estava vendendo um monte de coisas na minha casa, como móveis, louça, presentes de casamento de quase 30 anos antes e, em janeiro de 2017, fizemos a viagem para o William conhecer. Enquanto isso, continuava a vender as coisas no Brasil e a papelada seguia correndo.

Z.: Quais as principais dificuldades que enfrentou?

A.A.R.: Não teve dificuldade, sério que não teve! É trabalhoso, mas tudo estava fluindo, estava caminhando bem. Sabe quando parece que tudo conspira a favor? Em abril de 2017 a gente chegou aqui. A dificuldade não é prática, é emocional. Se a gente fala em desapego de bens materiais, de um lindo porta-retratos em casa, ok. Isso vai na mala. E a família, os amigos? E as lembranças? Essa parte foi muito difícil. Eu passei a última semana inteira no Brasil chorando, um pouco de insegurança pelo que viria e também pena de estar deixando pessoas tão queridas. Acho que a dificuldade inicial foi essa, aí depois as dificuldades chegando aqui, é claro.

Z.: Quais os principais apoios/companhias/inspirações para conseguir?

A.A.R.: Por incrível que pareça, a pessoa que mais me apoiou foi minha mãe. Meu pai faleceu em 2012, então naquela época a minha mãe já estava viúva há quatro ou cinco anos. Minha irmã mora na Bélgica há mais de 30 anos, então, da família mais próxima iriam ficar no Brasil só a minha mãe e o meu irmão. Achei que ela ia ter um treco. Mas ela falou "vai sim, vai enquanto vocês podem, enquanto vocês têm uma reserva financeira para garantir, enquanto seus filhos são pequenos, porque eles vão fazer o futuro deles lá. Eu tinha dado entrada na papelada assim para fuçar, para pesquisar, e um dia, vendo no Jornal Nacional um episódio horrível, aquele noticiário de que parecia pingar sangue e lixo da televisão, minha mãe falou "aí Adriana, você devia aproveitar e ir embora". Eu fiquei quieta. Uma semana depois, eu falei para ela que não sabia se ela estava falando sério ou não, mas que estava pesquisando. Ela ficou assustada, né? Mas todos eles têm vindo muito pra cá, tanto é que eu estou aqui há mais de três anos e ainda não fui para o Brasil. Porque o que mais pega para mim é a minha família e eles têm vindo, inclusive grandes amigos também!

Z.: E os maiores benefícios que conquistou?

A.A.R.: A segurança. Aqui, a segurança acima de tudo, como na parte de crimes. A gente chegou aqui quando o meu filho tinha de sete para oito anos, ia sozinho para a pracinha aqui perto. Eu moro em Raanana, na área central de Israel. É uma cidade pequena, de 80.000 habitantes. No começo eu fiquei um pouco preocupada, eu nasci e vivi em São Paulo, com todo aquele tamanho. Mas tudo bem, quando eu sinto saudade de uma bagunça eu vou para Tel Aviv, que fica a 20 km daqui e onde tem um trânsito caótico. A principal mudança foi isso, a qualidade de vida, a segurança. Uma coisa muito importante também é o respeito do governo, do país para com o cidadão. O cidadão no mundo inteiro deveria ser o patrão do governo. Você paga os impostos, você tem direito a cobrar os seus benefícios de volta. Enquanto eu estava no Brasil, sabia que a saúde pública e a escola pública tinham problemas gravíssimos. Quem marcava um ultrassom no SUS só conseguia fazer quando já não precisava mais, quando a dor passava. Aqui a gente quase não gasta dinheiro com ensino público, que é de qualidade e funciona por localização. Meus filhos estudam em uma escola aqui perto, onde só pode estudar quem mora na região. Então não é incomum que o filho do motorista de ônibus estude na mesma classe do filho do ministro. As crianças brincam juntas e frequentam a casa do outro, há uma desigualdade social menor. O respeito com o cidadão e entre os cidadãos também é maior. Temos menos estresse do dia-a-dia. Eu mudei completamente. Eu cuidava da parte financeira e de logística da distribuidora de alimentos que eu tinha com o William. Comecei a curtir essa parte de logística de distribuição exatamente porque eu gosto muito de mapas, de roteiros. Eu fazia a rota de entregas de todos os pedidos de nossos clientes. Eu já tinha passado um ano aqui em Israel e eu saía todo final de semana para passear. Logo que eu cheguei nesta mudança há três anos, eu comecei a sair muito, pegava o carro e ia para todo canto, conhecer e revisitar esse país inteiro. Conheci muito mais do que eu já conhecia. E daí, um dia, surgiu uma oportunidade. Uma prima minha me perguntou se eu podia pegá-la no aeroporto, e eu falei que claro que iria, que estava livre naquela tarde. Depois ela me indicou para uma pessoa, que me indicou para outra, e comecei a trabalhar com turistas do Brasil. Então eu trabalho com transfer, transporte de passageiros, turistas, praticamente todos do Brasil. Como isso vai muito no boca a boca, um dia peguei uma família de indianos e depois fui pegando outra, e outra, começou a pegar portugueses e depois vêm vários outros portugueses, é super legal. Aqui o turismo é muito forte. Eu atendo muito brasileiro judeus, muitos evangélicos e cristãos também, mas entre os não judeus o forte aqui são os evangélicos. É bonito ver a paixão que eles têm por esse país. Eu me encanto, eu adoro esse país e estou encantada também com o meu trabalho. Quanto ao custo de vida, aqui em Israel é altíssimo. Por outro lado, como despesas fixas, eu eliminei a escola particular de duas crianças, o convênio médico/seguro saúde da família (somos em quatro, o casal e nossos dois filhos, Isabella e Daniel), e o condomínio, que são as três maiores despesas. Ainda não comprei apartamento aqui e nem vendi o do Brasil. A hora em que eu vender o de lá eu dou entrada aqui, mas os imóveis são muito caros, tanto para aluguel como para compra. Carros são muito caros também, supermercado, a alimentação em geral é caríssima. Mas há uma grande diferença em relação ao que ocorre no Brasil. Aí sabemos que tantas pessoas ganham salário mínimo, ou um estudante que se formou em uma faculdade de excelente nível, que pagava R$ 6 mil, R$ 8 mil de mensalidade, vai para o mercado de trabalho para receber R$ 2 mil por mês. Isso aqui não existe. Até porque a faculdade é mais barata e porque quem se forma em uma faculdade de qualidade nunca vai ganhar tão pouco. Aqui o salário mínimo é de 5300 Shkalim, que deve dar em torno de R$ 6 mil e poucos reais. Então, se um casal trabalha e cada um ganha um salário mínimo, a família já vive super bem, sem luxo nenhum, mas com dignidade. Vive em um apartamento bom, com um quarto para cada filho, com comida farta na mesa. É uma outra história. Outra diferença no meu dia-a-dia é minha nova paixãozinha, nossa cachorrinha. Eu nunca havia tido bicho de estimação.

Z.: O que você falaria para alguém que pensa em "virar a mesa"?

A.A.R.: Uma coisa bacana que eu achei nessa última pergunta é que eu falo pra alguém que pensa em virar a mesa para virar mesmo, derrubar! Mas com muita segurança, com muita cautela, olhando bem para o chão antes de dar cada passo, principalmente se for mudança de país e mais ainda se tiver filhos na escola. Ah, teve uma coisa legal que eu não falei: eu tenho um carro legal, bem confortável para quatro passageiros, para fazer passeios e transfers, traslados do aeroporto, e de uma cidade para outra. Agora, além do primeiro, consegui um carro para sete passageiros, uma van para famílias um pouco maiores, para bagagem maior. E vamos que vamos!






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