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Psiquiatria 
Como sair e enfrentar os medos? Saiba mais sobre a Síndrome da Cabana e o FOMO
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ENTREVISTA - DRA. PAULA PAIXÃO FRANCO, PSIQUIATRA

ZENTA: Poderia falar algo sobre a Síndrome da Cabana? Como contornar esse medo que algumas pessoas vão desenvolver de não querer sair de casa, mesmo depois da liberação do isolamento?

 

PAULA PAIXÃO FRANCO: A síndrome da cabana é  o nome dado a uma série de sensações e sentimentos desconfortáveis relacionados à dificuldade que algumas pessoas podem desenvolver diante da perspectiva de voltarem a sair de casa após o fim de um período de isolamento necessário. Os primeiros relatos desta “síndrome” foram em meados de 1900, no norte dos Estados Unidos, onde o inverno rigoroso exigia que  os trabalhadores ficassem isolados em suas cabanas. O que era observado e o que se imagina que possa acontecer após o fim do nosso isolamento é que algumas pessoas passem a ter repulsa em retomar suas rotinas fora de casa. Podem experimentar sentimentos de insegurança e ansiedade e verem de forma negativa a possibilidade de retomada social. Para contornar esse medo, é importante que cada pessoa trilhe estratégias para tornar essa retomada menos angustiante. Sem “forçar a barra” em situações que ainda causem desconforto, respeitando o próprio tempo. Estar acompanhado de alguém que transmita segurança, iniciar com pequenas saídas em locais familiares, encontrar situações que gerem menos ansiedade e procurar ajuda psicológica são formas de atenuar esse medo.

 

Z.: E sobre o FOMO ("Fear of missing out"), que revela o medo de ficar de fora das redes sociais, de estar perdendo algo bacana/divertido, que as outras pessoas estão tendo ou vendo? Como isso afeta o nosso público? Isso está sendo acentuado nessa fase de isolamento? Como atenuar esses efeitos?

 

P.P.F.: O FOMO é um termo que surgiu nos anos 2000 e está associado à emergência das redes sociais, quando as pessoas passaram a poder compartilhar virtualmente os momentos bons da vida e atingir uma visibilidade que, antes do advento das redes sociais, era mais restrito. Diante de tantas postagens, algumas pessoas têm a sensação de sempre estarem perdendo algo supostamente mais interessante do que vivenciam naquele momento, o que gera sentimentos de tristeza, inadequação e  exclusão. O curioso é que, ainda assim, continuam impelidas a buscar e ver o que as outras pessoas estão fazendo, piorando o mal-estar. Tenho a impressão de que o FOMO é ainda mais evidente em adolescentes e adultos jovens que, de certa forma, têm mais familiaridade com as diversas redes sociais que existem atualmente. Na fase de isolamento, percebo que, para algumas pessoas, principalmente as ditas “introvertidas”, esse sentimento de ficar de fora diminui e, às vezes, se instala uma espécie de alívio, já que em tese não existe a possibilidade, ao menos presencial, de algo tão bacana que a pessoa possa estar perdendo. No entanto, para outras pessoas, o fato das inúmeras lives e encontros virtuais terem ganhado amplo espaço e visibilidade durante o isolamento, pode despertar essa sensação. São tantas opções de estar conectado com o  mundo e com outras pessoas, mesmo que virtualmente, que a ideia de estar perdendo algo mais divertido acaba aparecendo. Para o público 50+, acredito que esse sentimento de estar “perdendo algo interessante” apareça de outras formas, já que, mesmo que familiarizado com as redes sociais, não me parece ter a mesma relação com a tecnologia que alguém já nascido em uma época mais tecnológica costuma ter. Ainda assim, há o fato de que, nessa pandemia, foi frisada a necessidade de um maior cuidado com determinadas faixas etárias. Muitos, então, ficaram impossibilitados de ter contato com seus filhos, netos, amigos e demais familiares, devido ao risco maior de complicações que podem apresentar, caso sejam infectados. Penso que essa condição pode, sim, gerar  sentimentos mais intensos de solidão e também a sensação de “estar de fora” ou “perdendo algo” mais divertido. Para atenuar esses efeitos, acredito que o exercício da “não comparação” ajude, Para aqueles que são mais ligados às redes sociais, talvez seja importante restringir o acesso desenfreado a elas. Manter o contato (virtual) com amigos queridos e família também pode ajudar muito nesse processo.

Dra. Paula Paixão Franco é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, com Residência médica em Psiquiatria pela Santa Casa-SP, Sub-especialização em psicoterapia no IPQ-HC/USP. É Analista Junguiana em formação pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica.

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