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Urologia
Incontinência urinária: entre os fatores de risco estão obesidade, constipação e doenças pulmonares 
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ENTREVISTA: MARCELO PITELLI TURCO, MÉDICO UROLOGISTA

 

ZENTA: O escape de urina com um esforço como espirro, tosse ou levantamento de peso pode ser classificado como incontinência urinária?

 

MARCELO PITELLI TURCO: A incontinência urinária aos esforços se refere à perda involuntária de urina ao esforço ou atividade física e este tipo de perda urinária é a causa mais comum de incontinência urinária. Existe também a incontinência urinária que está associada a um desejo forte de urinar (urgência urinária) e nós a chamamos de urge-incontinência. Muitas vezes ambas as condições estão associadas no mesmo paciente. 

 

Z.: Existe algum grupo mais afetado pela incontinência urinária, como mulheres que tiveram parto normal, pessoas com mais idade?

 

M.P.T.: As mulheres são as mais afetadas pela incontinência urinária. Vários são os fatores de risco associados, por exemplo: as mulheres brancas estão entre as mais susceptíveis, o avançar da idade, a incontinência de outros membros da família (irmã ou mãe), as mulheres que ficam incontinentes durante a gestação, o parto natural e os partos com bebês maiores que 4 kg. Existem outras doenças que também aumentam o risco como diabetes, obesidade, constipação, doenças pulmonares, demência, cirurgias da pelve. Nos homens, alguns destes fatores também estão associados, porém uma causa frequente é a incontinência após as cirurgias da próstata (em especial aquelas para tratar o câncer de próstata).

 

Z.: Como é feito o diagnóstico de incontinência urinária?

 

M.P.T.: Na grande maioria das vezes, o diagnóstico é feito através da história clínica e do exame físico realizado na consulta médica. Algumas vezes necessitamos de exames complementares para confirmar o diagnóstico, bem como verificar se existem outras condições associadas. 

ZENTA.: Existem tratamentos não cirúrgicos para a incontinência urinária aos esforços na mulher?

 

MARCELO PITELLI TURCO: Sim, existem, e o tratamento conservador (não cirúrgico) deve ser proposto para todas aquelas pacientes nas quais, na história clínica, verificamos que mudanças em alguns hábitos podem melhorar a incontinência urinária. Pacientes obesas devem ser estimuladas a perder peso, pacientes que tem constipação intestinal devem ser tratadas para este fim, pessoas que fazem ingestão excessiva de líquidos devem ser orientadas a mudar de hábito, as tabagistas devem ser orientadas a parar de fumar (apesar de não haver efeito definido sobre a incontinência urinária) e devemos ainda estimular que urinem com mais frequência pois a bexiga estando muito cheia a incontinência pode ocorrer mais facilmente

 

Z.: Exercícios para fortalecer o assoalho pélvico são eficazes?

 

M.P.T.: Os exercícios de assoalho pélvico são eficazes em especial nas pacientes cujas perdas urinárias não são muito acentuadas. Idealmente estes exercícios devem ser realizados sob a orientação e supervisão de um fisioterapeuta ou enfermeiro especializado em reabilitação do assoalho pélvico. Estes profissionais também estão habilitados para proporcionar terapias adicionais,  como eletroestimulação e biofeedback que em geral são utilizadas em pacientes que não podem contrair ativamente a musculatura do assoalho pélvico e também para aumentar a motivação e a aderência ao tratamento. Ressalto que estas terapias são benéficas, não têm efeitos adversos significativos e em pacientes selecionados podem proporcionar melhora substancial e durável se os exercícios forem realizados adequadamente. 

 

Z.: Quais são os tratamentos cirúrgicos mais comuns? 

 

M.P.T.:  Hoje o tratamento cirúrgico mais comum para a incontinência urinária em mulheres é o “Sling” (do inglês alça, tipóia) que apresenta menor morbidade e menor tempo de hospitalização que outros tratamentos. Eles podem ser realizados tanto com materiais sintéticos como com tecidos das pacientes (aponeuroses). Em homens alguns dispositivos que se assemelham aos Slings femininos também são utilizados porém dispomos de Esfíncter artificial (que funciona como uma válvula que impede as perdas urinárias). 

 

Z.: Existem novidades em pesquisas? 

 

M.P.T.:  Estes tratamentos cirúrgicos apesar de eficientes são invasivos e apresentam algum potencial de morbidade. Assim, vários centros de pesquisa no mundo estão tentando utilizar terapia celular com células tronco e bem como outras células para tratamento da incontinência urinária. Realizamos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo uma pesquisa em ratas na qual tivemos sucesso na reconstrução parcial do esfíncter (válvula). Esta pesquisa agora está caminhando para ser reproduzida em humanos. Alguns centros de pesquisa no mundo já tiveram resultados satisfatórios. Ressalto que este tipo de abordagem deve ser realizado em ambiente universitário (de pesquisa), sob controle rigoroso de comissões de ética em pesquisa.



Marcelo Pitelli Turco é Doutor em Urologia - Faculdade de Medicina -USP; membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia; membro internacional da American Urological Association; coordenador do Grupo de Disfunções Miccionais do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini.

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