top of page

ENTREVISTA - Helena Vecchia D’Elia, médica gastroenterologista

ZENTA: Quais os principais problemas gastrointestinais na faixa etária do Zenta, especialmente os 50+? 

Helena Vecchia D’Elia: Dentre os principais problemas desta faixa etária podemos citar:

Hemorróidas 

Doença diverticular

Câncer colorretal

Doença do refluxo gastroesofágico

Colelitíase

Z.: Quais as orientações para evitar estes problemas? 

H.V.D.: Conforme envelhecemos, muitas funções corporais se tornam mais lentas, e uma delas é a digestão. Isso ocorre porque os músculos do trato digestivo se tornam mais rígidos, fracos e menos eficientes e ocorrem mudanças estruturais em órgãos como o fígado e pâncreas, reduzindo a produção de enzimas digestivas, alterando a microbiota intestinal, dentre outras consequências.

Os tecidos também estão mais suscetíveis à lesões porque a regeneração celular já não é tão rápida  e eficaz quanto na juventude. Além disso, em muitos casos, o uso de múltiplos medicamentos e o sedentarismo também podem impactar a saúde intestinal dos mais velhos.

  

Pessoas acima dos 50 anos devem manter um estilo de vida saudável e ingerir bastante fibra para auxiliar a movimentação das fezes pelo intestino. Para isso, a alimentação deve contar com verduras, frutas e grãos integrais como aveia, por exemplo. 

Para aqueles que não têm dificuldade de mobilidade, o exercício físico é fundamental, pois previne uma série de doenças e auxilia nas contrações dos músculos intestinais. Mesmo para aqueles que se locomovem com um pouco mais de dificuldade, uma caminhada breve e acompanhada já tem efeitos positivos na saúde intestinal.

 

Além disso, esses pacientes devem beber bastante água, prevenindo a formação de fezes duras e ressecadas, e todas as consequências da constipação.

Para evitar sintomas dispépticos – como azia, empachamento,  regurgitação – é importante manter uma rotina alimentar regrada, evitando excessos de alimentos industrializados e ricos em condimentos, além de procurar realizar uma dieta fracionada, ou seja, ingerir porções pequenas de alimentos, em intervalos mais frequentes (“comer de três em três horas”).

Z.: Quando é aconselhável visitar um gastroenterologista? Qual a periodicidade?

H.V.D.: A ida ao gastroenterologista é indicada quando há sintomas que envolvam órgãos relacionados à digestão. Assim, caso a pessoa sinta enjoo, dor abdominal, diarreia, constipação,  empachamento ou queimação no estômago, por exemplo, é indicado consultar o gastro.

A periodicidade irá depender da patologia encontrada. 

Z.:  Quando devo realizar exame de colonoscopia? Qual a periodicidade? Quais os riscos? 

H.V.D.: A colonoscopia tem basicamente duas indicações: a investigação de sintomas e o rastreamento do câncer colorretal.

Na primeira situação, a colonoscopia é indicada para investigação de determinados sintomas, como alteração de hábito intestinal, sangramento ou dor abdominal.

Na segunda situação, o exame é realizado para rastreamento, ou seja, para detecção de uma eventual lesão em um indivíduo que não tem nenhuma queixa. Essa indicação se baseia no conhecimento que hoje se tem do processo de desenvolvimento do câncer de intestino. Os tumores malignos de intestino, em sua maioria, se desenvolvem a partir de lesões precursoras benignas, chamadas de pólipos, o que pode ocorrer ao longo de um período de anos.  Existe, portanto, um intervalo de tempo em que se pode, por meio da colonoscopia, detectar e retirar um pólipo antes que este tenha a chance de se tornar um tumor maligno. Com isso estaremos fazendo efetivamente a prevenção do câncer colorretal.

De acordo com as principais sociedades científicas de Coloproctologia, toda pessoa assintomática deve se submeter a alguma forma de rastreamento do câncer de intestino aos 45 anos de idade. Apesar de existirem outras modalidades de exame (pesquisa de sangue oculto nas fezes, retossigmoidoscopia, etc.), a colonoscopia é amplamente reconhecida como o método mais eficaz de rastreamento. Idealmente, portanto, a colonoscopia deveria ser oferecida a todos os indivíduos acima desta faixa etária.

Devemos ressaltar, no entanto, que para indivíduos que tenham na família casos de câncer de intestino grosso, a colonoscopia pode ser necessária antes dos 45 anos de idade. Nestes casos, o momento certo de realizar o exame deve ser orientado pelo médico, considerando fatores como a idade e o número de parentes que tiveram câncer de intestino.

A colonoscopia é hoje um exame seguro e extremamente eficaz na detecção, tratamento e prevenção das doenças do intestino grosso, apresentando os mesmos riscos da endoscopia digestiva alta.

 

Z.: Para o público 50+, há indicação de outros exames? 

H.V.D.: No que diz respeito ao estudo do aparelho digestivo, o único exame que solicitamos para todos os pacientes como forma de rastreio, independentemente da queixa ou histórico familiar, é a colonoscopia a partir dos 45 anos. Os demais exames disponíveis serão solicitados a partir dos sintomas apresentados.

De forma geral, outros exames específicos serão solicitados para o público 50+, como exames cardiológicos, mamografia, exame preventivo de próstata, etc.

Z.: Quando devo realizar exame de endoscopia digestiva alta? Qual a periodicidade? Quais os riscos? 

H.V.D.: A endoscopia digestiva alta deverá ser realizada em pessoas com queixas como azia, queimação, falta de apetite, sensação de estufamento e perda de peso que persistem por mais de uma semana. O exame também pode ser indicado como forma de rastrear tumores precocemente, em especial os de esôfago e de estômago. De acordo com fatores de risco (como esôfago de Barrett ou presença de casos de câncer gástrico na família, por exemplo), o gastroenterologista pode indicar a realização do exame com determinada frequência.

A endoscopia é considerada um procedimento extremamente seguro. É realizada com sedação, dando conforto ao paciente durante o exame.

Ainda assim, existe uma chance pequena de complicações,  especialmente aquelas relacionadas às medicações utilizadas durante a sedação, como dificuldade em respirar, transpiração excessiva, pressão arterial baixa, batimento cardíaco lento (bradicardia), espasmo da laringe.

Há ainda uma pequena chance de haver perfuração ou hemorragia durante o exame, dependendo da doença que o paciente apresenta.

 

Z.: O que é, para que serve e quais os riscos da ecoendoscopia?

H.V.D.: A ecoendoscopia ou ultrassom endoscópico é um exame que combina ultrassonografia e endoscopia, possibilitando a análise das paredes do esôfago, estômago, duodeno, reto e demais estruturas adjacentes ao tubo digestivo, como pâncreas, vesícula biliar e linfonodos regionais.

O ecoendoscópio pode ser introduzido pela boca – ecoendoscopia alta – ou pelo reto – ecoendoscopia baixa, dependendo das estruturas que serão avaliadas no procedimento. Também é possível fazer biópsias guiadas por meio da punção com agulha fina, permitindo encaminhamento da amostra para exame citológico ou histológico.

Assim, a ecoendoscopia pode ser diagnóstica e terapêutica, sendo solicitada em situações como:

  • Identificação de compressões extrínsecas ou causadas por tumores subepiteliais;

  • Estadiamento de tumores de esôfago, estômago, reto, pancreático e pulmonar;

  • Avaliação de tumores sólidos e císticos que acometem o pâncreas;

  • Identificação de massas abdominais, mediastinais e perirretais;

  • Diagnóstico de coleções abdominais;

  • Diagnóstico de microlitíase biliar (barro biliar).

 

A ecoendoscopia, assim como a endoscopia e colonoscopia, é um exame realizado sob sedação e é extremamente seguro. As chances de que ocorram complicações aumentam ligeiramente nos procedimentos em que são realizadas biópsias. 

Dra. Helena Vecchia D’Elia é Membro Titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Tem graduação pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos – FCMS, é especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia do Aparelho Digestivo - IAMSPE SP e  possui título em área de atuação em Videocirurgia pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Digestiva.

Gastroenterologia
Confira as práticas que contribuem para uma boa saúde do trato digestivo
Zenta - Dra. Helena Vecchia E'elia - Dez 2021.jpg
bottom of page