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Pneumologia
Covid-19: a hora de entrar com anticoagulantes, os marcadores de gravidade e outras dúvidas
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ARTIGO: Dr. Ciro Kirchenchtejn, pneumologista

 

Após pouco mais de um ano de epidemia, aprendemos muito sobre como evitar a propagação da doença, como tratá-la, mesmo sem antiviral específico, e como evitar complicações. Vimos países que investiram no isolamento social, distanciamento das pessoas, uso de máscaras, lavagem frequente das mãos e agora, com a vacinação, houve uma redução expressiva dos casos graves e da circulação do vírus.

 

Descobrimos que investir em tratamentos sem evidências, como cloroquina e ivermectina, poderiam causar falsa impressão de segurança e levar a comportamentos de risco, além de eventual toxicidade. Reduzimos a mortalidade nos casos graves com técnicas de suporte de Oxigênio, manter pacientes mais graves de barriga para baixo (pronação), uso de corticoide, monitorização intensiva da oxigenação. Desde o início observamos exames que serviram como marcadores de gravidade da doença. 

 

Febre, por exemplo, não é um marcador de gravidade da doença. Mas sentir falta de ar e ter baixa oxigenação, ter PCR elevado, redução de linfócitos, que é um dos tipos de glóbulos brancos, e ter os D-Dímeros elevados seriam marcadores de risco de má evolução, inclusive de morte. Os D-Dímeros são produtos provenientes de degradação de coágulos. Podem ser microcoágulos de vasos muito delicados ou de artérias e veias grandes.

 

O vírus da Covid-19 lesa o endotélio, que é o revestimento dos vasos, e provoca uma reação inflamatória que pode acionar os mecanismos de coagulação. O sangue precisa ser líquido para circular e se sem um ferimento ele se coagula, acaba por interromper a circulação do sangue.  Assim, pode levar a quadros de trombose de veias e embolia pulmonar, que é quando esses coágulos se deslocam das veias e entram nos vasos pulmonares. Coágulos em artérias podem causar infarto do miocárdio e derrames cerebrais. 

 

Pacientes que já têm grande parte do pulmão inflamado pela Covid-19 e passam a ter novas complicações, como embolia ou infarto, tornam seu caso muito mais desafiador para diagnóstico e tratamento.

 

O uso de anticoagulantes deve ser prescrito caso a caso, pois ele também pode favorecer hemorragias.

 

Nos casos mais graves, de pacientes que requerem ser internados, têm queda de oxigenação e têm fatores de risco para desenvolverem trombos, como em obesos, cardíacos, fumantes, ou que já tiveram trombose no passado, há indicação do uso de anticoagulantes em doses profiláticas, para prevenir a formação da trombose. A equipe de saúde deve estar em vigilância contínua, pois se mesmo assim se criar um trombo, deve-se passar para doses maiores para se desfazer o trombo. Também com muita atenção para não facilitar uma hemorragia.

 

Estão sendo realizados estudos para se definir melhor quando e por quanto tempo se prescrever os anticoagulantes durante a infecção pela Covid-19.

 

Em caso de dúvidas, recorra sempre ao seu médico de confiança e sempre evite a automedicação.

Esperando que todos e todas recebam a vacina o mais breve possível, até breve!

Dr. Ciro Kirchenchtejn é Pneumologista da Unifesp e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

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